Saturday, September 19, 2015

Abstenção - Mais do Mesmo

A Banda Desenha

Olhemos para a tira de banda desenhada que o Vasco escolheu para ilustrar o seu texto sobre a abstenção. Trata-se de uma crítica que apresenta três situações como análogas a um argumento típico usado por quem se abstém de votar. Nesta BD um sujeito queixa-se de que uma situação inicial implica outra situação final. A BD argumenta que, de facto,  é a situação final que implica a situação inicial.



Mas será uma comparação válida? Comecemos pelas analogias:

"- As mulheres não estão interessadas em mim, por que razão terei eu de me preocupar com a higiene?"

Segundo o argumento, é a falta de higiene que implica que as pessoas não estejam interessadas no sujeito. Parece-me razoável admitir tal coisa pois a probabilidade de uma mulher não estar interessada num homem que se apresente com má higiene é elevada.

"- Eu sou terrível nesta tarefa no computador, portanto nem vou tentar."

Segundo o argumento, é por não tentar que o sujeito é terrível na tarefa no computador. É razoável admitir tal coisa porque a probabilidade de se saber fazer qualquer coisa sem tentar, ou praticar, a mesma coisa primeiro, é muito baixa.


"- A vida é curta, por isso vou comer tantas sandes de bacon quantas forem possíveis."

Segundo o argumento, é pelo sujeito comer tantas sandes de bacon quantas forem possíveis que a sua vida será curta. É razoável admitir tal coisa porque a probabilidade da vida ser curta se nos alimentarmos incorrectamente é muito mais elevada.

Vejamos agora a versão criticada. Será análoga às outras 3?

"- Os políticos nunca fazem o que o meu grupo quer, portanto eu nunca voto."

Segundo o argumento, é pelo sujeito não votar que os políticos não fazem o que o seu grupo quer. Será razoável admitir que se o sujeito votar os políticos eleitos farão o que o seu grupo quer? A probabilidade dos políticos eleitos fazerem o que o sujeito quer se ele votar é elevada?

Na minha opinião a resposta é: não. A probabilidade não está indexada ao acto do sujeito votar, mas tão somente à quantidade das outras pessoas que têm vontades análogas. De facto as vontades do sujeito podem ser todas cumpridas mesmo sem que ele vote. Basta para isso que todas sejam compatíveis com a vontade da maioria. Para o bem e para o mal, é assim que funciona a "nossa" democracia.

A acção individual de ir votar pouco impacto terá na maneira como os políticos se comportaram. Isto é contrário aos outros 3 exemplos onde cada sujeito tem a capacidade de, de forma individual, corrigir o problema final que de facto implica a situação inicial. A BD apresenta um argumento assente na falácia da falsa analogia.

Pensar que se consegue influenciar a política indo votar é equivalente a pensar que se pode mudar a corrente de um rio mudando o curso de uma gota. Para se influenciar a política numa democracia é preciso influenciar a opinião dos outros, tantos quantos for possível, e mobilizá-los.

Pernicioso

Será então pernicioso não votar? Não. Se admitirmos que a acção individual de votar (ou não votar) tem pouco ou nenhum impacto então nunca podemos admitir que essa é uma acção maligna. Essa conclusão iria contradizer a premissa de onde se partiu.

Lero-lero

Na minha opinião, que já expus noutra discussão parecida mas noutro tom, não há correlação entre a a abstenção e a qualidade dos políticos ou de uma sociedade, nem tão pouco há qualquer causalidade.

Vejamos. Poderíamos admitir que o resultado de umas determinadas eleições onde todos os eleitores fossem eleitores interessados seria o mesmo se se conseguisse uma amostra representativa do ponto de vista estatístico: O resultado de umas terminadas eleições com 10.000.000 de eleitores interessados seria o mesmo qualquer que fosse a amostra representativa da população de eleitores.

Neste caso, e partindo da premissa que ser um eleitor interessado dá bastante trabalho, é fácil de concluir que um sistema muito mais eficiente para o funcionamento da sociedade seria "escolher" uma amostra de eleitores interessados, e apenas esses investiriam o tempo necessário para votarem "bem". O resto das pessoas podia investir o tempo poupado noutras coisas. Este sistema seria mais eficiente e portanto mais lógico. No entanto é possível que vá contra o comportamento normal das pessoas, e que as pessoas "irracionalmente" sejam contra ele. Toda a pessoa quer ter o direito ao voto, e que o seu voto tenha tanto valor como o de qualquer outra pessoa. Mesmo reconhecendo essa pessoa que "não sabe em quem votou, mas votou", e assim cumpriu o seu dever.



Este sistema hipotético, apesar de ser tão inocentemente idealista como um sistema em que as pessoas fossem todas interessadas pela política e assim votassem "bem" (seja lá o que isso for), demonstra que não há causalidade entre uma abstenção baixa e ter bons políticos.

Mas nem era preciso um exemplo hipotético. Podemos olhar para o exemplo que levou o partido Nazi ao poder. Certamente que as pessoas na altura estavam muito mais envolvidas na política do que agora, pois passavam por uma altura de crise severa. E o partido Nazi não ganhou umas eleições de um dia para o outro. Houve várias eleições até chegarem ao poder, e sempre com um turnout muito elevado (da wikipedia):

Resultados da participação nas urnas e do Partido Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazi):

1930: 82% de participação, 18,25% dos votos
1932: 70% de participação, 37.27% dos votos
1932: 80% de participação, 33.09% dos votos
1933: 89% de participação, 43.91% dos votos

E pronto, nas eleições seguintes, no mesmo ano de 1933, já só havia um partido.

Como se vê não há qualquer causalidade entre participação nas urnas e políticas de qualidade. Ficar frustrado com um aparente desinteresse alheio em votar, quer seja por desleixo, quer seja por revolta, quer seja por se ser um eleitor fantasma, quer seja pelo que seja, é focar as frustrações num detalhe de pouca importância.

Seria a sociedade melhor se as pessoas se interessassem e fosse votar de consciência? Talvez... mas isso não vai acontecer de um dia para o outro. É energia desperdiçada lamentarmo-nos que assim não seja. Porque não nos lamentarmos logo que as pessoas não se comportem de uma maneira moral e decente? Repare-se que se todos o fizessem nem sequer seria preciso "política"...

Para mim os políticos e as políticas que uma determinada sociedade tem são um reflexo directo do tipo de eleitores que existem e da cultura e realidade onde estão inseridos. Se no dia a dia das pessoas há pequena corrupção, se há pequenas desonestidades, se há o desinteresse pelo outro, os políticos vão-se comportar da mesma forma. A única diferença é que as suas acções, pelos cargos que ocupam, causam muito mais dano alheio quando comparados com o dano alheio de cada um dos pequenos infratores.

Mas mesmo assim causam muito menos dano que a soma de todos os pequenos danos... Admitamos que por ano cada pessoa gasta 100€ em reparações em casa. Se fugirem ao IVA (quer factura?) deixam de contribuir com 23€ para o estado. Só neste pequeno acto, que cada um certamente justificará como pouco importante, e certamente alegará que "a mim roubam-me muito mais" e que "os políticos é que isto e aquilo", por ano estamos a falar de 230.000.000€. Qual foi a última vez que um político causou um dano desta ordem num só ano ao estado?

Agora se admitir-mos que este tipo de atitudes é o dia a dia de muita gente...

Não faz sentido pensar que se conseguiria partir de uma cultura deste género e mudar a sociedade para melhor apenas conseguindo eleitores conscientes, ou pior, que se conseguisse que mais pessoas fossem votar. Mesmo que se elegessem políticos "de qualidade" e com "boas ideias", não havendo uma população compatível com essas políticas o resultado só poderia ser desastroso.

O correcto funcionamento da sociedade depende de muito mas muito mais. Depende da vontade de cada um de influenciar não o outro mas de si próprio. Depende da vontade de cada um de nós de sermos mais honestos e exigentes com nós próprios. Quando isso acontecer, o resto segue naturalmente.

Vai acontecer? Não sei... Só sei que a acontecer certamente não será de um dia para o outro. Será um processo de evolução linear, que demorará o seu tempo, e que por sua vez dependerá essencialmente de se conseguir manter alguns elementos chave na sociedade durante esse tempo. Elementos como um sistema de ensino universal e de qualidade, que "produza" pessoas melhores.

Entretanto as eleições estão ai, os partidos são o que são, os programas são o que são. Admitir que o futuro poderia ser diferente se as pessoas se interessassem e fossem votar, ou que pelo menos se os que votassem o fizessem de forma informada, é admitir que o resultado das eleições seria diferente se os que se abstém fossem votar.

Não me parece.

Parece-me que mesmo os que se abstém por revolta votariam nos partidos maioritários, contrariando o argumento que é contra-producente a abstenção por revolta. Porquê? Porque usualmente as pessoas  preferem um problema conhecido do que um completamente desconhecido. As mudanças bruscas só acontecem em tempo de crise, tanto para o bem como para o mal. Quem disse que quem se abstém por revolta pensa que os partidos que usualmente não têm tantos votos merecem mais o voto que os que mantém o estado das coisas? Não é necessário que seja assim... de facto, se se pudesse concluir alguma coisa, seria precisamente o contrário pelo facto de, precisamente, essas pessoas não irem votar. Se pensam que os partidos do poder são maus e ao mesmo tempo não votam nos partidos da oposição, o que diz isso da sua opinião sobre a oposição?

Adicionalmente não faz sentido pedir a certo tipo de pessoas que vote. Quem quer apenas meter-se na sua vida, não mandar em ninguém, e apenas que não o chateiem, não vai votar. Não faz sentido ir votar... É contra o seu ideal. Por muito que na prática isso seja contraproducente, porque em determinadas situações não votar implique que "o chateiem" ainda mais, é contra os princípios da pessoa ir votar. Os outros que votem, que façam lá o que têm a fazer, desde que o façam no seu canto.

Mais. Há um risco engraçado de pedir a uma pessoa para se informar antes de votar. É que muitas vezes quanto mais uma pessoa se informa, mais dúvidas tem. E quem é que quer tentar impor a sua vontade aos outros, quando não tem certeza dela?

Entretanto "todos vocês" podem ir votar e ficar a pensar que cumpriram o vosso dever, e que as coisas só não correm melhor porque os outros [inserir desculpa aqui]. Eu já me rendi à vontade da manada, e vou tentando fazer o que o George Carlin ensina. Observando o espectáculo de freaks e vivendo.

E por falar em freaks e política. Está ai o novo espectáculo: Chama-se Donald Trump e tem uma legião de seguidores que certamente serão eleitores interessados, prontos a ir colocar o seu voto na urna...

Bah...

Thursday, October 30, 2014

É para manter, como é evidente.

Esclarece Teixeira dos Santos, o então Ministro das Finanças da altura do 1º Ministro Sócrates, o seguinte sobre os cortes salariais da função pública:

«- A proposta de redução dos salários, em média dos 5%, é operada em 2011, é para manter-se a partir de 2011. É para ficar, como é evidente. Não é?»

Responde o 1º Ministro:

«- Claro.»

E justifica-se o Ministro das Finanças, da interrupção que fez ao Sr. 1º Ministro:

«- Eu penso que podia haver dúvidas quanto ao entendimento daquilo que foi dito pelo Sr. 1º Ministro»

Atende então o 1º Ministro ao "pedido de aclaração", da seguinte forma:

«- O que eu entendi da sua pergunta (do jornalista) é se em 2012 se fariam outras reduções. Não, a resposta é: Não. A resposta é: Faz-se uma redução salarial em 2011 e depois, para 2012, temos as negociações, que todos os anos ocorrem para os salários na função pública»

Ficava assim claro que os salários da função pública sofreriam um corte permanente nos moldes em que fora definido.

Agora temos que os salários voltam aos níveis "por inteiro", durante uns meses enquanto não se acerta na percentagem constitucional, e que por inteiro se entende como o valor antes dos "cortes permanentes de Sócrates".

Também há um plano do Governo neo-liberal do Sr. Passos Coelho para repor totalmente os salários, de forma progressiva durante cinco anos. O totalmente também se refere a volores antes dos "cortes permanentes de Sócrates".

Não Sr. Teixeira... afinal não era assim tão evidente. Por estas bandas parece que permanente é temporário, temporário é permanente, e irrevogável é... nem sei bem. O ar é de todos, e o significado das palavras aparentemente também.

Thursday, June 19, 2014

Resposta um



Caro anti abstencionistas (link),

«Não defendo que percam o direito de se queixar só por não terem votado. »

Parabéns. E quanto mérito que é que isso te dá?

«Enquanto os outros conseguirem manter a democracia, vocês terão sempre esse direito.»

Ou seja, quem não vota não mantém a democracia e quem vota mantém a democracia. É isso? 

Discordo. Como se pode ver pela história as democracias foram conquistadas por outras coisas que não o voto, e mantidas por muito mais. Acusares alguém que não vota de não fazer nada para manter a democracia é completamente absurdo.

«Também não quero que vos obriguem a votar ou que vos castiguem se não o fizerem.»

Parabéns. E quanto mérito que é que isso te dá?

«Um voto tem de exprimir uma escolha própria e informada, e isso não se faz à força.»

Ai tem? É que parece-me que a maioria das pessoas, vota de forma não informada. Ups… Talvez se devesse obrigar as pessoas a fazer um teste de cruzes anexo ao voto para filtrarmos quem realmente sabe no que está a votar, ou assim.

«Não me convencem as vossas desculpas de que se abstiveram para protestar caladinhos em casa ou que vos é realmente indiferente quem são os legisladores que vos representam.»

Mas que desculpas? Alguém precisa de desculpas para se abster? Que raio… Digamos que eu me junto com o bando de rufias lá do bairro, e fazemos uma grande festa para o bairro decidir por voto quem é que vai ser o rufia maior e mandar. Depois se tu, caro bairrista, não vais votar no rufia que mais queres que te dê porrada, é bom que arranjes uma desculpa? Ok, está bem.

Eu diria que a autoridade é que tem o ónus de conseguir convencer as pessoas a legitimá-la, e não o contrário. Se eu não a quero legitimar, estou no meu direito, ponto final. Se ficar em casa a coça-los, estou no meu direito. Se achar que não sei em quem votar, estou no meu dever de não ir votar
¹. Se tiver uma de outras milhares de coisas que ajudam a sociedade a manter-se em pé para fazer e a for fazer, estou no meu direito. Enfim, as razões são infinitas.

E se depois de ficar em casa a coça-los o rufia que ganhou a vossa festa patética se armar em parvo e alguém, obedecendo de forma cega à sua autoridade, me vier tentar estragar a vida ou a vida da minha família, eu estou no meu direito de lhe dar um tiro nos cornos. Entendes? É assim que se defendem sistemas justos. É estando disposto a sacrifícios pelo que se defende. Não é com cruzes de merda no imbecil que consegue articular melhor um discurso.


«Se não encontraram diferenças é porque não se deram ao trabalho de as procurar.»

E quem vota, deu-se ao trabalho de encontrar alguma coisa? 

«Mas também não vou invocar deveres abstractos de civismo e democracia para censurar a vossa preguiça. O meu problema convosco é mais concreto.»

Acusação patética.

É um bocado como chamar a quem não contribui para a sociedade, tendo um trabalho produtivo e contribuindo acima da média, de ser um preguiçoso. Não trabalhas? És um preguiçoso. Ganhas o salário mínimo? És um preguiçoso.

Ou como acusar os funcionários públicos de serem uns chupistas. Ou qualquer outra generalização patética. Já devias saber melhor que isto.


«Gerir uma sociedade livre e justa é um berbicacho.»

E então ainda bem quem exista quem esteja disposto a sacrificar-se para o fazer pelo bem dos outros, mandando neles. Viva os mártires.

«É preciso saber o que cada um quer,»

Como se isso fosse possível…

«entre o que querem é preciso identificar o que é justo, daquilo que é justo e desejável há que determinar o que é possível e, finalmente, perceber como o obter.»

Mmm, estou a ver. Há uns seres todos poderosos, do tipo pai natal, que andam a recolher listas de desejos e a decidir o que é possível dar a quem. Isto porque os preguiçosos não saberiam, sem os tais senhores gordos que dão prendas, fazer nada por si mesmos para obterem o que querem.

«E é um trabalho constante, porque há sempre muito que temos de melhorar e, sobretudo, muito que temos de impedir que piore. Para conseguirmos isto distribuímos a decisão por todos os envolvidos na esperança de que os erros e enviesamentos individuais se diluam no grande número de participantes e, assim, se encontre o melhor caminho.»

… ver mensagem em cima. Não sejas preguiçoso, lê outra vez a mensagem de cima. Mas quando chegares aqui outra vez, não entres em ciclo, ok? Passa para a de baixo.

«No entanto, a democracia só funciona se cada um tentar perceber os problemas, estudar as propostas, pensar nas consequências, escolher as opções que prefere e der o seu parecer. Dá trabalho, demora tempo e é uma chatice, mas tem de ser assim porque não há alternativas aceitáveis.»

(Como te atreveste a chegar aqui sem ter voltado acima primeiro!!! Seu madraço!)

"Não há alternativas aceitáveis" é uma mensagem típica de quem defende um qualquer regime autoritário.


«Esperamos por um ditador?»

Não precisamos de esperar por um ditador. Já temos um, e tu defendes esse ditador. Tu és parte integrante dele. Apenas pensas que esse ditador é um “bom” ditador. É claro que de vez em quando ele não é assim tão bom e ficas melindrado com o que ele te manda fazer, mas enfim. Quem brinca com fogo queima-se.

«Atiramos a moeda ao ar?»

E que tal ninguém mandar em ninguém? Mas mesmo dentro do sistema que gostas: e que tal votar quem quiser ir votar?

«Damos tudo aos interesseiros e fanáticos? A democracia é um sistema muito mau mas os outros são todos piores.» 

A democracia é um ideal. O sistema que tens tenta ser democrático, mas há muitas maneiras diferentes de como tentar.

Nem todos os sistemas democráticos precisam de ter representantes eleitos por sufrágio universal. Por muito utópico que seja (será?), a anarquia é o sistema mais democrático de todos.

Ou mesmo um sistema parecido com o actual mas com uma assembleia com membros escolhidos de forma aleatória entre os cidadãos poderia ser, dependendo da maneira como fosse implementado, mais representativo da vontade do povo. Mais democrático portanto.

«Por isso, o que me chateia na vossa abstenção é a falta de colaboração num trabalho importante. Não é uma questão de direitos ou deveres cívicos em abstracto. O problema é concreto. Temos uma tarefa difícil, da qual depende o nosso futuro, e vocês ficam encostados sem fazer nada.»

Sem fazer nada? Deves pensar que ir trabalhar todos os dias, cuidar de uma família sem ter tempo, pagar uma porrada de impostos para que se consiga ter todas as coisas que temos como os senhores querem, é fazer nada para manter o sistema. Deves pensar que evitar a economia paralela sobre a impressionante pressão da sociedade para a usar (eu é que sou totó de andar a pedir recibos e merdas assim) é fácil. Deves pensar que tentar fazer as coisas de forma correcta constantemente, quanto à volta ninguém o faz, é não fazer nada.

Mas depois quem só pensa no seu umbigo no dia a dia, vai votar, já faz tudo e mais alguma coisa. Que conveniente.

Berdamerda para a tua acusação patética!


«Isto tem consequências graves para a democracia.»

A abstenção de forma genérica? Suspeito que não.


«Quando a maioria não quer saber das propostas dos partidos, está-se nas tintas para o desempenho dos candidatos e nem se importa se cumprem os programas ou não, o melhor que os partidos podem fazer para conquistar votos é dar espectáculo. Insultarem-se para aparecerem mais tempo na televisão ou porem o Marinho Pinto como cabeça de lista, por exemplo. Vocês dizem que se abstêm porque a política é uma palhaçada mas a política é uma palhaçada porque vocês não votam.» 

Está a pensar na maioria errada. Não é a maioria que se abstém que causa este problema, é a maioria dentro dos que votam que o fazem de “forma errada”.

«A culpa é vossa porque não é preciso muita gente votar em palhaços para os palhaços ganharem. Basta que a maioria não vote.»

Não, não basta. É preciso que exista uma maioria, dentro dos que gosta deste jogo e vai votar, votar nos palhaços. Os outros não participam na eleição dos palhaços, não têm nada a ver com o resultado. Não é evidente?


«Também é por vossa culpa que os extremistas estão a ganhar terreno, e pela mesma razão. É fácil pôr os fanáticos a votar. Basta abanar o pano da cor certa e, se mais ninguém vota, eles ficam na maioria.»

Não, não é por nossa culpa. É por vossa.

Mais uma vez: É a autoridade é que tem o ónus de mobilização. Se há várias autoridades a competir entre si para mandarem na aldeia, e queres pensar que há uma boa e outra má, e ainda a autoridade boa não consegue convencer aqueles que seriam os seus súbditos a votar nela, a responsabilidade é só e apenas dessa autoridade. Não é de mais ninguém.

Isto para não entrar na discussão de que é uma infantilidade pensar que há os bons e os maus, que é a única situação que justificaria o teu lamento. Admitindo o contrário, que se tratam apenas de opções políticas diferentes, e que não há maus nem bons, de repente passa a ser (mais) irrelevante haver uma abstenção que alegadamente tem a culpa de mudar o resultado das eleições. Tanta parvoíce.

E não mais uma vez. Quem se abstém tem ZERO de culpa na subida das posições extremistas. Vai ver
comparecimento às urnas nas eleições federais alemães que colocaram o partido Nazi no poder. Lá se vai o teu argumento da treta…

Diria que é mais provável as posições extremistas aparecem em alturas de crise, porque passa a ser mais desejável e aliciante acreditar em soluções mágicas para resolver problemas, ou em bodes expiatórios. Não é por causa da abstenção, tem dó.


«Mas se vocês colaborassem e se dessem ao trabalho de avaliar as propostas dos partidos, se os responsabilizassem pelas promessas que fazem e votassem de acordo com o que acham ser a melhor solução, deixava de haver palhaços, interesseiros e imbecis na política.»

Não. Quem tem a responsabilidade de fazer tal coisa é quem vota, não é quem se abstém. Quem vota, tem a responsabilidade de o fazer correctamente. Quem sabe que não o consegue fazer correctamente, tem a obrigação de não votar.

«Não presumo que vocês fossem todos votar no mesmo que eu.»

Presumes bem, mas não deixas de escrever este lamento patético a pensar que tudo seria diferente se a abstenção fosse baixa… Como sabes pelos países que têm voto obrigatório votar não é a mesma coisa que lutar por, e conseguir um, sistema justo. Até pode ser o contrário, como reconheces pelo teu lamento de quem "vota mal".

«Não temos todos as mesmas prioridades nem as mesmas opiniões acerca do que é viável e de quem merece confiança. Mas pelo menos acabava a palhaçada.»

Daqui a nada estás a defender o homo economicus. Estás a sonhar. Eu também sonho. Sonho que um dia a cultura vai ser de tal forma evoluída que ninguém vai quer mandar em ninguém, e ninguém vai aceitar ser mandado por outro de forma coerciva. Entretanto vai-se vivendo na realidade.


«Se a maioria votasse com consciência em vez de ficar em casa obrigávamos os partidos a prometer soluções viáveis e a cumprir o que prometessem.»

Falso. Ver eleições federais alemãs que colocaram o partido nazi no poder. Aposto que votaram todos com consciência.


«Parece-me que este resultado valeria bem o trabalho de ler uma dúzia de panfletos, pensar um pouco e pôr uma cruz no papel. Mas não é trabalho que se possa deixar a uns poucos enquanto a maioria coça o umbigo.»

Se se trata apenas disso, tens os partidos que tens, os programas que tens, e ganha quem ganha. Sem abstenção o resultado seria certamente muito parecido, e os programas seriam exactamente os mesmos. Nada leva a querer o contrário. Diria que a totalidade dos votos representa uma amostra com um erro baixo...

«Nós não precisamos dos votos de quem tem certezas. Precisamos de quem tem dúvidas e que, por ter dúvidas, questione, informe-se e pense no que faz. Não precisamos dos votos dos militantes. Precisamos dos indecisos, porque o que é preciso é tomar decisões em vez continuar a repetir o que evidentemente não funciona. E nisso estamos bem. Há muita gente com dúvidas e capaz de decisões novas que, em conjunto, podia mudar isto tudo.»

Precisas de muita coisa, e se não consegues recrutar mais amigos, a culpa é tua! Entendo que estejas aborrecido com isso mas mais vale subjugares-te à realidade: Não vais conseguir acabar com a estupidez humana (2), estou eu aqui a servir de prova e tudo! E o sistema que defendes faz com que sejas um vassalo dela.

«Vocês. Basta apenas que se deixem de tretas e ajudem de vez em quando.»

Basta... basta? Tanta ingenuidade. Basta ler uns panfletos e colocar umas cruzinhas de quatro em quatro anos num papel. Depois podemos ir todos brincar aos hippies, plantar umas batatas, trocar umas cenas, receber o rendimento básico incondicional, fumar uns charros, darmos as mãos e sermos felizes.

Não, não basta. Com sistemas autoritários conseguem-se construir pirâmides, mas é preciso escravos que puxem as pedras.


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Agora repara no seguinte. Se de facto quem não vota está totalmente desinteressado da política, podes pegar no universo dos que "se interessam"e vão votar e reparar que: O resultado das eleições é o que é, e nunca seria diferente apenas por haver mais pessoas a votar.

Não gostas do resultado das eleições? É a vida. Acusar os outros de terem culpa de ganhar o partido errado (o que tu não gostas) é patético e pouco democrático. Se achas que a política seguida é errada, azar o teu. Quer queiras quer não estás no sistema que defendes, a culpa é tua. Submete-te à vontade da maioria. Se achas que a política seguida é ilegal e queres andar com acusações de corrupção generalizada e outras merdas, então não te estás a queixar de um sistema político errado estás-te a queixar de um sistema de justiça deficiente. Que tal passares a escrever posts a queixar-te dos tribunais, dos juízes, da PGR, e cenas assim?

Se a tua queixa é outra, a de não haver pessoas a votar informadas, então essa queixa aplica-se a todos mas principalmente a quem vota, não a quem se abstém. Quem vai votar de forma aleatória só para pensar que está a cumprir o seu "dever cívico" é que está a fazer merda. Se deixasse essa tarefa para quem realmente teve a disponíbilidade, e tem a capacidade, de se informar, então o resultado seria... informado ou assim. Já pensaste que se calhar, mas só se calhar, a maioria das pessoas nem tem a capacidade de entender os programas políticos?

Mas felizmente votar "mal" ainda é um direito,
subjuguemo-nos às maldades consequentes. É a viding...

Para mim apontaste os canhões para o subgrupo errado e de forma completamente injusta. Esta é, na minha opinião, a tua treta.


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PS: Para o trabalho que esta merda me deu a escrever... se calhar mais valia ter ido votar. Do ponto de vista da preguiça fazia mais sentido, e sempre escusava ir trabalhar amanhã em modo zombie, e de me sentir o alvo de acusações patéticas.

PS2: Lamento o estilo agressivo da resposta mas não gosto que me acusem de ser preguiçoso injustamente.


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  1. http://www.pages.drexel.edu/~nth34/Nathan_Hanna/Papers_files/voting.pdf
  2. https://www.youtube.com/watch?v=p6BoV0AIPl4